Eu respiro fundo e fecho os olhos, o avião está decolando e não acho muito legal a ideia dos meus pés estarem saindo do chão, e que eu estou dentro de uma coisa que pode cair. Na verdade a ideia de estar em um lugar a mais de dois metros do chão é algo totalmente perturbadora.
-Está tudo bem? - uma aeromoça me pergunta, eu abro os olhos e dou um sorriso falto, tenho certeza que mais pareceu uma careta, mas a aeromoça engoliu ele.
-Tá sim - respondo ainda com meu sorriso estranho, ela sorri como um robô e saí dali para atender ao pedido de uma velinha que está sentada algumas poltronas a frente na outra fila.
O avião é grande, é um daqueles voos internacionais, eu ainda não acredito que estou aqui, primeiro porque é um avião, e segundo pelos motivos que me levaram a estar aqui. Eu finalmente estou indo para Londres para passar algum tempo na Europa. Um pouco para me afastar de tudo que andava me sufocando, e outro tanto porque eu tenho uma oportunidade única lá. A oportunidade de finalmente escrever outro livro de sucesso.
-Você tem medo? - o rapaz que está do meu lado pergunta, interrompendo totalmente meus pensamentos e dando um sorriso bonito, ele está falando em português, mas tem um leve sotaque que eu diria ser italiano.
-Do quê? - levanto uma sobrancelha e ele sorri.
-De avião - eu suspiro e faço uma careta.
-Não é do avião que eu tenho medo, é da altura.
-Da altura ou de cair dela?
-Um pouco dos dois - eu confesso e ele sorri - Eu sei que estou super segura aqui e tudo o mais, mas é.... é ...
-Eu tenho medo também - ele confessa interrompendo o que seria um monologo cabuloso.
-Mas não parece! - não consigo não mostrar a minha surpresa, ele sorri e dá de ombros .
-Eu consigo controlar meu medo, simplesmente paro de pensar nele, sabe?
-Eu costumo fazer isso, mas não dentro de aviões, dentro de elevadores, morro de medo deles - ele ri.
-Normal, você já ficou presa em algum?
-Quando eu era criança e ele quase caiu, por isso eu tenho medo de lugares altos ou fechados, sabe? - ele assente e começamos a conversar, conversamos sobre o tempo e como céu noturno está estrelado, ele conta que é brasileiro, mas viveu tempo demais na Itália e agora está indo morar em Londres. Ele não acredita quando conto que sou autora do livro que está no seu colo.
-Claro que não pode ser, quer dizer pelo que parece você tá fugindo do Brasil, e duvido que essa autora faria isso! - eu tiro minha carteira de identidade e mostro para ele.
-Eu não estou fugindo, só estou querendo novos ares - sorrio, e ele dá uma risada um tanto quanto bonita.
-Novos ares... Eu também disse isso quando decidi voltar para a Europa, mas na verdade foi porque minha família estava me sufocando.Acho que não sou tudo aquilo que eles pensam, então comprei esse livro - ele aponta para a edição final do meu livro, que está linda, mas eu não presto atenção nela, fico vidrada em nos olhos sedutores dele - E "fugi".
-Você só não precisa de pessoas cobrando sua perfeição 24 horas por dia, não considere isso como uma fuga, e sim como... - eu perco minha linha de raciocínio ao ver que ele presta atenção em cada palavra minha e parece admirar meu rosto.
-Como?
-Como... uma nova experiência, um jeito deles se tocarem do que estão fazendo e de você aproveitar um pouco mais, quer dizer você está indo para Londres! Tem alguma coisa mais legal que isso?
-Tem - ele sorri, mas não diz o que é - Mas concordo com seu argumento, apesar dele não mudar os fatos.
-Dane-se, é um argumento bom - ele ri e voltamos a conversar. O avião pousa suavemente e descemos juntos, acho que os dois estamos sem rumo e sem lugar para morar... Tenho certeza disso quando ele pede se conheço algum hotel por aqui.
-Minha madrinha disse que esse aqui é bom - falo o nome do hotel que eu vou ficar - E ele sempre tem vagas.
-Vai ficar lá também?
-Até comprar alguma coisa por aqui ou percorrer a Europa inteira, sim - eu dou de ombros e ele me ajuda a pegar as malas. Dividimos o táxi, e apesar de estarmos em silêncio sei que nossos olhos estão admirando a mesma coisa. O belo cenário que é Londres e um ao outro.
Eu desço do táxi e teno pegar minha mala, mas tropeço e teria caído se ele não tivesse me segurado, eu fico rindo disso até entrarmos no hotel e aguardarmos liberarem quartos. E quando dizem que já podemos subir, a moça da recepção diz que nosso quarto é um na frente do outro, uma coincidência enorme.
Não sei o que esperar de um garoto com sotaque italiano, então não espero nada, como sempre faço só observo, viro a narradora de meus movimentos e dos seus esquecendo de pensar em algo. E é quando chegamos na frente de nossos quartos, trocamos telefones e e-mail na recepção, então quando ele vira para me falar algo penso que é para pedir que eu autografe seu livro. Mas não é isso que ele faz.
-Já que estamos aqui pelo mesmo motivo , poderíamos conhecer Londres juntos o que acha? - ele sorri, e eu dou um sorriso enorme e verdadeiro com a proposta sentindo meu coração dar um salto.
-Claro - ele sorri com a resposta e se aproxima lentamente de mim, paro de prestar atenção em tudo a minha volta e apenas olho para ele .
-Não me bata por isso - ele sussurra puxando-me gentilmente para um beijo ao qual eu correspondi.
Era o beijo do meu futuro marido, mesmo eu não sabendo daquilo ainda, e o beijo que me faria começar a escrever a melhor história de amor de todos os tempo, ou talvez só meu segundo livro que seria um grande sucesso.
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